Sinópse: “A primeira coisa que fez foi me entregar um caderno pequeno e velho, em que se lia na capa “O último Deus”, e as letras todas em sangue humano. Desdêmona me disse que naquele caderno estavam registradas as memórias da sua família, e que quem as escrevera fora seu pai e avô William, horas antes de morrer. Levei um susto, fiquei estupefato com aquilo. Era apenas o começo. Então ela começou a me relatar toda a sua história, toda a sua vida quase impossível, quase inacreditável. Em detalhes ela ia se despindo diante de mim, contando como tudo começou em 1884 e como tudo parece ter terminado em 1980. Ela foi se revelando até a última instância para os meus olhos apavorados. Sua narrativa era impensável, sem precedentes. Fiz menção várias vezes de sair dali e abandonar aquela mulher de uma vez por todas, esquecer aquela louca varrida, aquela filha do diabo… Meu Deus, Desdêmona fora criada até 1980 no porão da casa em que me encontrava! Seu pai, que era também o seu avô, a confinara de forma vil e impiedosa, pensando estar manipulando personagens da ficção literária! “Ele queria ser um Machado de Assis. Ele queria muito ser o seu próprio Deus, inventar e brincar com o seu destino e o dos outros. Ele nos inventou para o seu mundo apenas, não para o mundo dos homens. Ele controlou nossas angustias diárias e as batidas dos nossos corações. Programou nossas mentes, nos condicionou, nos enganou o tempo todo, nos fez seres subservientes e menores que ele, nos induziu ao fracasso, nos inventou como um escritor inventa sua personagem e faz dela o que deseja. Papai nos confundia com o que lia, com os seus livros preferidos. Nossas vidas eram projetos literários, um roteiro bem traçado… Meu Deus, quanto horror numa história só. “