Sinópse: Há momentos na vida em que fugir da depressão é tudo o que importa. Existe um monstro de sete metros correndo atrás de você e sua única chance é não se deixar alcançar. Há um tempo em que não existe espaço para ocupações secundárias – engajar-se na construção de uma carreira, estudar francês, ir ao cinema, escovar os dentes. Se você desvia o olhar para qualquer ponto que não seja o monstro, ele se aproxima, com aquelas enormes pernas tortas e assimétricas que invariavelmente correm firme em sua direção. Em dois segundos ele te toma nos braços, te engole e te penetra, e aí é tarde demais. Cara, a personagem-narradora deste romance, foi por três anos a fugitiva do apocalipse. Ela conheceu o monstro da depressão, dormiu e acordou em sua companhia em um sem número de noites e dias em que se viu reduzida a uma marionete da tristeza. O mergulho na lama seguiu sua trajetória de declínio em uma espiral íngreme, onde sempre havia espaço para um degrau abaixo. Seu horror não conheceu limites, o todo se transformou em vazio e a sombra do fim lhe puxou pelas mãos. O vagar pelo escuro da morte fez de Cara a errante aterrorizada, mas foi justamente neste mais profundo do último vale que uma voz lhe sussurrou em íntimo silêncio a existência de algo mais. Houve o tempo em que Cara foi sondada por forças que não sabia que possuía, e ela então correu. No posterior ao derradeiro, esta mulher de carne, osso e essência foi um Forrest Gump em busca de nada, apenas mantendo o movimento e a velocidade de quem não pode novamente se deixar capturar. Ela ainda enxergava o monstro, ele ainda estava próximo, mas enquanto ia escapando, Cara se transformava na protagonista de seu próprio resgate. A cada drible, a cada lance de esperteza em que ela consegue tomar alguma distância e ir à tona respirar, Cara se apossa da sublime beleza de se reconhecer viva. O movimento mantém o espetáculo e a personagem se descobre atriz e plateia, observadora e agente, diretora e figurinista, autora, co-autora e adepta de improvisos.