Sinópse: ´Será que não representamos uma ópera de fantoches, os fios movidos por ignota mão, que segue libreto de um deus que dele não cuida mais?´ – pergunta Ismael da Silva Frade, poeta e funcionário de cartório, ao escritor João da Fonseca Nogueira em Ópera dos fantoches, romance de Autran Dourado. Os dois encontram-se num bordel em Duas Pontes – o vilarejo mineiro recorrente nas obras de Autran Dourado – e, sob o pretexto de inspirar João na criação de um novo livro, Ismael conta sua história, que começa na Fazenda dos Mamotes, em Cercado Velho, por volta de 1920. Relembra a infância, os morros e torres de igreja onde ia em busca de refúgio, a família conservadora, que cultuava os mortos em macabra adoração, as acusações do pai, que o chamava de ´vagabundo´ por querer apenas fazer gaiolas e versos, e a doce irmã Ursulina e a prima Tarsila, que, juntos, costumavam banhar-se nus, no açude. Alternando depoimentos dos personagens em primeira pessoa a cada capítulo, Autran elabora um vasto painel de emoções emoldurado por belas paisagens mineiras. Ao misturar passado, presente e futuro, o autor constrói uma trama onde se destacam o vacilante e conformado Ismael, a corajosa Paula, que subverteu valores para seguir um caminho perigoso, e a recatada e religiosa Tarsila, pura passividade e dedicação. Há também Gonçalo, colega de Ismael no cartório, prestes a explodir em revolta, Evangelina, a romântica extremada, e a descrição dos típicos hábitos do interior de Minas, da cultura do café, do poder dos coronéis e latifundiários e da hipocrisia da tradição e da repressão sexual. ´Minha vida daria um romance?´ – pergunta então o poeta a João. A resposta está na elogiada obra deste premiado escritor.