Sinópse: SINOPSE MATUTAGENSEste livro de Antonino Amaral, elaborado ao longo de muitos anos de atividade, mostra as cogitações de um cidadão consciente e crítico, preocupado com a realidade política e social do Brasil, a qual, pelo teor do livro, é muito bem conhecida e vivida pelo autor, mostrando as duas faces da nossa pátria amada, em constante choque: Por um lado, a materialidade, a natureza inferior do homem comandada pelo instinto. Por outro lado, a natureza superior presidida pela espiritualidade. Aquele, englobando os desmandos sociais, políticos, econômicos e muitos outros, responsáveis pelo caos em que vivemos à mercê da falta de cidadania plena. Esta, constituída pelos princípios religiosos e éticos, sobre os quais deve basear-se a sociedade para que realmente possa superar os desmandos que afligem nossa nação e geram tantas injustiças sociais.Matutagens, como o próprio escritor afirma, é um testemunho social, uma amostra da verdade política, (que o vulgo consegue abarcar) fruto de anotações das experiências vividas ao longo de muitos anos, sobretudo convivendo com os trabalhadores do campo ; não é propriamente um livro de crônicas. Há capítulos que podem ser considerados crônicas, e outros, contos. O livro é,Antonino Ferreira do Amaral14mais um ensaio, recheado de reflexões sobre religiosidade, ética, política, filosofia, sociologia, com a finalidade básica de promover uma “cruzada de brasilidade, ajudando a pensar, a discutir uma saída democrática para os males da política e da vida brasileira,” buscando, assim, amenizar a barbaridade da desigualdade social.O autor é técnico agrícola e conviveu durante muitos anos com o povo da roça, observando o jeito de ser do colono e do sertanejo, anotando suas impressões sobre o que observava no convívio com esse povo humilde e, certamente, bem mais cidadão que o povo da cidade.O estilo é simples e direto, expresso numa linguagem clara e coerente, sem o uso de rebuscados recursos literários, mas expresso num vocabulário adequado, e exposto de uma maneira que convence o leitor através de argumentos e exemplos apropriados. Há momentos em que o livro soa repetitivo, mas isso não passa de um recurso para destacar as linhas centrais do objetivo do autor. O valor maior do livro não está no estilo literário, mas na exposição clara e direta dos argumentos que alicerçam o objetivo central do autor: que os escritos “sirvam de alerta para essa multidão de desamparados que, cabisbaixos, caminham como uma boiada em disparada no rumo de um despenhadeiro.”Interessante o destaque dado à religiosidade como alavanca de uma sociedade mais justa e democrática: “Da mesma forma como uma semente germina numa latinha, e que um dia terá que ser transplantada para o seu lugar definitivo no pomar, a fé que adquirimos dentro dos templos também tem que ser levada para o terreno da realidade, para dar bons frutos na política, no governo e na sociedade.”Às vezes, a linguagem é contundente, principalmente quando se refere às classes mais altas, especialmente aos políticos, mas observando bem o andar da carruagem pública do Brasil dos nossos dias, não há como não sentir uma misto de frustração e revolta com a situação. 15 MatutagensHomens públicos, membros da classe alta, professores, estudantes, religiosos, pessoas engajadas em causas sociais, deveriam ler as matutagens de Antonino do Amaral.É bom lembrar que a maioria dos capítulos deste livro não foram escritos recentemente, mas uma ou mais décadas atrás. Esse alerta é importante, pois qualquer texto sempre deve ser lido pondo-o no contexto da época ou do ambiente em que foi escrito, do contrário pode sugerir incongruências.Fidêncio BogoMembro da ATL