Sinópse: Curiosamente, a história de Franziska começa com a sorte — e também o azar — de ela ter nascido na virada de um milênio. Despontava o século 20 e as crianças que nascessem nas primeiras horas do novo tempo receberiam um dote de mil coroas e se tornariam afilhadas do próprio imperador. A parteira, interessada em ganhar uma parte do prêmio, atrasou o parto propositadamente e a mãe acabou não suportando as conseqüências desse ato. “Nasci desventurada, nunca serei feliz”, pensou a pobre menina aspirante a rica, certo dia, quando ainda não poderia supor o que a esperava. Fulvio Tomizza, o autor desse apaixonante livro, reconstrói a história de Franziska através de cartas que ela trocou com seu eterno noivo. Sem mãe, ela começou a ser criada pela tia que fora morar com o pai. Mocinha, teve que abandonar o lar para receber melhor educação aos cuidados de uma baronesa. Desolação: a garota cuja grande ambição era tornar-se professora acabou escravizada por serviços domésticos e encarcerada num castelo. Os acontecimentos da Primeira Guerra mudaram, novamente, os rumos dessa vida boba e sofrida. Franziska retorna à região do Carso, uma província eslava que já estava sob o domínio dos italianos. De novo, a sorte se mistura ao azar. “Toda história de amor tem seu prelúdio acidental e ela conheceu, a poucos passos de casa, o homem destinado a ganhar todo o seu afeto”, escreve o autor. Mas tinha um problema: ele era um oficial italiano, um inimigo, então. Conquistada pelo tenente Nino Ferrari, a bela jovem de cabelos dourados assume sua paixão e antevê uma vida feliz quando ele a pede em casamento. Deixou-se embalar pela felicidade concreta que aquele sonho propunha: amaria o novo país, os novos parentes que ganharia, a nova casa e sua felicidade se completaria com os filhos que viriam. Mas, ao contrário, Nino é que se foi, com a promessa de que ela se juntaria a ele mais tarde — o que nunca aconteceu. Cartas, cartas e mais cartas. Os dois amantes praticamente conversavam através do correio. Até que um dia, inexplicavelmente, ela não recebeu mais notícias do amado. “Quando, sozinha com meus pensamentos, vi a inutilidade do meu lindo sonho e a minha confiança tão bonita e grande, ferida, tive a impressão de enlouquecer”, escreve ela, em carta endereçada a Nino, que já não sabia vivo ou morto, solteiro ou casado. Franziska nunca mais se apaixonou, não se casou e jamais esqueceu seu primeiro amor. Talvez sequer tenha ficado sabendo que Nino Ferrari falecera em 1959, aos 78 anos, inválido devido a um atropelamento.