Sinópse: Nélio Índio do Brasil, vindo de uma galáxia distante cujo nome é Nada, caiu na Terra, na América Latrina, no patropí de Médice e Jorge Ben, em 1958, quando toda a realidade explodia como bolhas de sabão fazendo “Sputnik” e “Beatnik”. Desde então ele espera que a sua vida seja eterna enquanto dure, desde que não seja obrigado a assistir de novo o Hollyday on Nice, o Flávio Cavalcanti e os Dez mandamentos. Dentro e fora do lar, aprendeu que a verdade não existe, o que existe é uma boa argumentação, ou ficção. Isso se deu quando ouviu alguém dizer a outro, “penso, portanto existo”, e este respondeu, “f*-se!”. Depois disso, frequentou a escola dominical, em São Vicente, por vontade própria, onde aos sete anos também aprendeu que Papai Noel não existe jamais, mas, o que é pior, existem os que acreditam no saco roxo e cheio, de presentes e regalos, dele. Por isso, templo é dinheiro, sobretudo para os ateus e cristãos da Fiesp, da Polícia, do Ministério Público. Há vinte anos ele pesava 80 quilos de te(n)são e ansiedade, e hoje pesa 120 litros de vodka, o que lhe confirma um atavismo particular, alguns de seus antepassados nasceram corcundas, e nele, através desses vinte anos, uma corcunda imensa lhe nasceu, não nas costas, mas na barriga. Hoje, apesar dessa corcunda ventral que lhe tolhe os movimentos, quase que totalmente em paz consigo, há um cemitério florido em seu coração e uma fuga de Bach ecoando em sua cabeça, ele espera que o mundo não acabe justamente amanhã, que será o dia em que ele ganhará, sozinho, o grande prêmio da loteria da vida. Mesmo que não saiba que prêmio é esse. E ele tem esse medo, essa esperança, há 59 anos. Pois ele sabe que “fiado, só amanhã”. E que o Índio é do Brasil, mas o Brasil não é do Índio.